Manifesto Anti-Tantos!



A importância da adequação dos comportamentos tende a ser esquecida pela generalidade
das pessoas. Estamos numa época em que fazer cumprir regras indicia prepotência,
impedimento das liberdades, atitude fascista e outros epítetos de que me abstenho de
enumerar. A verdade é que, o rigoroso cumprimento das regras estabelecidas mantém viva
a democracia e assegura o estado de direito. Quando as regras se constroem por vontade
do colectivo passam a constituir leis, ordens e orientações. Quando se generaliza a
banalização do incumprimento a nossa sociedade poderá apelidar-se de qualquer coisa −
Nunca de democracia. Os regimes democráticos têm regras. É por via desta tomada de
consciência que se devem trilhar novos caminhos que moldem os comportamentos a ter na
vida social. Quando uma sociedade não cumpre nem faz cumprir está votada à extinção. A
História da Humanidade regista vários exemplos.

Em Portugal, os últimos tempos têm sido marcados por convulsões várias que, mais do
que manifestações de grupos profissionais, revelam descontentamentos transversais à
sociedade. É um sentimento consciente. Aquele que perdeu a esperança em quem o
representa; aquele que começa a perceber que quem de direito não cumpre com a justiça;
aquele que não entende o estado do Estado; aquele se cansou de esperar por melhores dias
porque espera há 50 anos e está velho; aquele que percebe o sentimento de impunidade;
aquele que baixou os braços; aquele: − O ignorado. Aquele contribuinte que só dá, não
recebe.

Aqui chegados surge a manifestação, qual grito estridente, como forma de se fazer ouvir.
Seria espectável que, a par destes protestos de descontentamento social generalizado, se
assistisse à alteração de políticas por parte do poder central. Mas não, o poder representa-se
a si mesmo. O poder trata dos seus. O poder pode! O poder é absoluto. Não é
democrático. Não faz mal… foi eleito.

Retomando a ideia de que as regras são para cumprir por todos; retomando a ideia de que
ninguém está acima da lei; retomando a ideia de que este país ainda mantém traços
democráticos talvez tenhamos chegado àquela altura em que temos de alterar a direcção
que temos dado à nossa vida colectiva. Precisamos de Saber: estar na escola, na repartição,
no tribunal, no hospital.

Precisamos de saber exigir ser alunos, professores, contribuintes, juízes e testemunhas,
doentes, médicos e enfermeiros e polícias e bombeiros e patrões e empregados e primeiro-
ministro e ministro e, e, e…

Precisamos de saber ter consideração, respeito, bom-senso, ser educados!
Precisamos de saber ser democratas- votar em consciência com a certeza de que estamos a
pensar primeiro no país porque a nossa família é o nosso bem-maior.

Precisamos de repensar Portugal pelo superior interesse do futuro dos nossos filhos e
netos.

Precisamos!

Olívia Wintacem, Considerações, Lisboa, 2020.
Partilhar
    Comentario Blog
    Comentario Facebook