Texto de opinião
Olívia Silva
Vice-Presidente da Direção Política Distrital do Partido Aliança
Ainda guardo na memória, não muito longínqua, os pedintes no Rossio, os cegos, à entrada do metro, entoando cantilenas, troca de uma moeda. Lembram-se?
Ainda guardo na memória, não muito longínqua, varinas descalças, canastra na cabeça, a fugir da multa, em pleno Cais do Sodré. Lembram-se?
Ainda guardo na memória, não muito longínqua, a “sopa do Sidónio” que muitos meninos iam buscar à junta de freguesia, depois de saírem da escola. Lembram-se? Foi em Lisboa. Esta cidade cosmopolita que agora se orgulha de ser “destino “de férias.
Hoje, uma mulher pediu-me “umas folhinhas de chá” para as filhas gémeas, de dois anos. À noite, na falta de leite, dá-lhes chá quente. Vi uma mulher, nova, impotente. A vida retirou-lhe o brilho dos olhos, a esperança. E retirou-lhe também a dignidade.
Ela pedia “folhas de chá”! Ivone (chama-se assim), devia ter trabalho, e tem desemprego. Devia ter casa e vive numa barraca. Devia ter roupa e é maltrapilha. E tem frio. E tem fome.
Ivone, devia ter, devia ser…devia! Mas não tinha. Nem era. Quantos “não” somos? Quantos “não” temos?
Hoje, em Portugal mulheres como a Ivone vergam-se à `inexistência da humilhante sopa do Sidónio e… passam fome. Hoje, não há cegos pedintes à porta do metro. Hoje, as varinas vendem peixe nos mercados.
E hoje as filhas das “Ivones” deste país adormeceram a fome com chá quente. Até quando?
Olivia Silva

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